Entrevista com o autor

Alunos do técnico em Edificações entrevistam autor do livro ‘O circo de 98’

Foi a primeira de uma série de atividades dentro da disciplina de Literatura

‘O circo de 98’ foi a obra escolhida pela professora de Literatura, Ana Maria Bastos Firmino, para ser trabalhada com os alunos do 2º ano do curso técnico em Edificações, integrado ao ensino médio. A ideia surgiu após a lançamento do livro, em 2023, com o objetivo de mobilizar a sala para a leitura, a reflexão, análises críticas, discussão dos temas abordados, exposição escrita e oral e troca de ideias. “Na época, senti que a narrativa seria interessante para o trabalho com alunos por trazer uma linguagem jovem, usada pelos alunos dessa faixa etária, abordar questões pelas quais eles também passam, por mostrar temas que precisam de reflexões e permitem diversas análises”, contou Ana.

O trabalho foi dividido em etapas. Primeiro, a leitura do livro. Depois, uma discussão em sala onde os alunos fizeram vários comentários, observações, sugestões para a história, criticaram algumas questões polêmicas e se envolveram com a temática. Em outro momento eles fizeram uma atividade escrita e em dupla com questões discursivas sobre o livro. E, para ampliar as reflexões, uma entrevista com o autor Gabriel Bhering, via meet. “A entrevista literária deixou o escritor no centro da cena, numa construção coletiva e ampliou as reflexões dos alunos por apresentar um novo olhar sobre o autor e sua obra”.

Segundo o aluno João Paulo Chaves de Souza, o contato com o escritor foi muito importante para esclarecer algumas dúvidas que surgiram durante a leitura do livro. “Poder ter esse contato com o próprio autor que escreveu o livro foi muito importante para podermos entender e conversar sobre o enredo e as dúvidas que nos sugiram durante a leitura”.

A aluna Nathália Félix da Silva destacou a oportunidade de conhecer a pessoa por trás da história e também receber dicas sobre como lançar um livro. “Gostei da forma que ele explicou que usou a história como uma forma de educar os leitores sobre esses preconceitos que temos na sociedade. Eu acho que ele utilizou bem um meio para fins educacionais e que, na minha opinião, ele fez isso com uma grande maestria”.

Para o autor do livro Gabriel Bhering, participar do encontro online com os alunos do Instituto Federal foi uma experiência incrível. “Um momento muito importante para qualquer escritor, pois enquanto a gente está digitando no computador, não tem ninguém, é só a gente. É um processo bem imersivo e solitário, então quando tenho a oportunidade de ouvir os comentários de outras pessoas sobre uma história que até então só existia em minha mente, não tem preço. É de uma alegria que eu não consigo nem descrever. É quando a gente percebe que a Sabrina, o Murilo, a Simone, a Bhrisa e toda a turma está conquistando outros corações e proporcionando reflexões”.

O trabalho com os alunos ainda terá mais uma etapa, a elaboração de uma resenha crítica sobre a obra, considerando a proposta temática e a sua estilística. O texto deve ser publicado nas resenhas da Amazon, no Skoob ou em um post no Instagram. “O objetivo dessa fase final é verificar o resultado das análises críticas, as interpretações sobre o livro, as produções escritas dos discentes num espaço específico para isso, o que pode motivar futuras produções desses alunos”, disse a professora.

Sobre o livro

A ideia de escrever o livro “O Circo de 98” surgiu na Pandemia da Covid-19. O escritor conta que assim com o uma de suas personagens, a Sabrina, ele também “estava entediado e adoraria encontrar, por acaso, o diário de adolescente do seu pai, caso ele tivesse um”.

A obra conta a história de Sabrina, uma adolescente que começa a ler, na quarentena, o diário do seu pai, Murilo. Na época, ele já namorava a sua mãe, Simone, e sonhava em ser o astro do rock, mas, agora, ele é só um advogado entediado. Conforme a jovem vai lendo o diário, o leitor vai descobrindo tudo o que aconteceu na juventude de seu pai, inclusive a grande paixão que ele teve por uma trapezista chamada Bhrisa. 

“No fundo, eu sempre quis escrever uma história que se passasse no circo, pelo fato do meu pai ter me levado, desde criança, ao picadeiro. Apesar dessa vontade, para escrever uma história do ponto de vista de alguém que é circense, parecia algo muito distante, por nunca ter vivido essa realidade, foi quando veio a ideia de desenvolver uma narrativa partindo de uma pessoa que tem a sua vida atravessada pelo circo, no caso: o Murilo. Desde o momento que comecei a escrita, eu tinha a ideia do início e do fim, mas o meio da história era um mistério até para mim, e olhando para trás vejo que essa foi a parte mais legal no processo, pois fui descobrindo com os personagens”.

Do livro, o aluno João Paulo aprendeu que ninguém deve desistir das coisas que fazem bem. “É um livro maravilhoso e muito bem pensado. Consegui sentir e imaginar muito bem as cenas que foram descritas, as relações entre os personagens e a história que nos prende e nos faz viajar em todas as situações que acontecem nele. É uma leitura que flui muito bem, pois tem uma linguagem mais fácil de se entender. Essa história circense e esse romance um pouco conturbado me fizeram gostar muito dele”!

Já Nathália ressaltou os relacionamentos familiares e as relações pessoais. “Geralmente quando os professores recomendam livros para a gente ler na escola, são livros mais formais, com uma linguagem mais culta. Me surpreendi quando comecei a ler e me deparei com um livro cheio de gírias, falas atuais e situações que acontecem durante a adolescência que é a fase que estamos passando agora”.

Sem censura

Para a professora Ana maria, adotar o livro “O circo de 98”, num momento em que “O avesso da pele” tem chamado tanto a atenção de leitores e da mídia, vem reforçar que é preciso tratar os conflitos, as relações humanas, os vários aspectos da vida em discussões de leituras nas aulas de literatura e que, “enquanto professores, precisamos apresentar esses textos aos estudantes, pois é muito triste sentir que as pessoas podem ser preconceituosas, egoístas e conservadoras na sociedade sem tomar nenhuma atitude para que esses comportamentos mudem”.

“É inacreditável que em pleno século XXI, livros como ‘O avesso da pele’ estejam sendo censurados em um país que, em tese, defende a liberdade de expressão em sua Constituição. A sensação que dá diante de casos como esses é de impotência e desesperança, mas quando recebo um convite como o da professora de Literatura Ana Maria Bastos para conversar com os seus alunos sobre o meu livro ‘O Circo de 98’, que tenta trazer diferentes questões para reflexão, é uma forma de ressignificar este momento e enxergar luz em uma educação emancipatória, que não está preocupada apenas em preparar para o vestibular, mas em formar cidadãos críticos e éticos, que certamente estarão prontos para se indignar em casos de censura que a cultura brasileira possa enfrentar”, finalizou o escritor.

*** O livro pode ser lido através do link: https://www.amazon.com.br/Circo-98-Gabriel-Bhering-ebook/dp/B0C414Z418

Assessoria de Comunicação
IFSULDEMINAS – Campus Pouso Alegre